sábado, 25 de outubro de 2014

Circos sociais

Aberta temporada de guerra eleitoral. O tão aclamado cenário de futilidades sociais da rede vira palco de futilidades políticas. Antes continuassem só os posts de auto-ajuda dos marombeiros e as selfies de menininhas virgens desesperadas por atenção com o decote em evidência. Mas não, conseguimos fazer despencar o nível de vez... Dilma isso, Aécio aquilo... é incrível como a discussão na web se baseia apenas em ataques e ofensas, na maior parte das vezes sem qualquer base argumentativa. E os planos de governo? E as propostas? Será que alguém se preocupa com isso? Ou estão todos completamente cegos e empenhados em propagar o ódio gratuito a uma determinada inclinação político-partidária de esquerda ou de direita sem sequer estudar os candidatos e se inteirar da discussão política? Colocam na mesa premissas passadas porra! tem gente que volta uns quinze anos para xingar! de suposta corrupção de governo, ou de um outro político próximo, como culpa integral do candidato - como se um presidente por si só fosse responsável pela corrupção dentro partido e do governo inteiro - apontam o dedo e declaram ao mundo acusações que não podem provar - ou que sequer são relevantes, atacando a vida pessoal dos candidatos e não a sua capacidade de governar - tomam qualquer artigo de procedência duvidosa publicado na web como a mais valiosa e absoluta verdade. Lamentável. O potencial das redes sociais de promover a discussão política ética e construtiva enterrado no chorume.

Saindo desse aterro, de volta à realidade, vale explicitar essa distinção entre político e política, ao que parece, tão aberrantemente distante do entendimento de nossos queridos eleitores: político é o indivíduo eleito que toma parte de uma parcela das decisões que afetam a política do país. Política se refere a um universo complexo de interações hierárquicas, socioeconômicas, tributárias, geopolíticas, culturais, entre tantas outras, que se passam a nível micro, sob a a influência do ator político individual - que pode ser desde o presidente até o padeiro da esquina, dependendo da situação - e a nível macro, no conjunto de sistemas funcionais e inter-relacionais da união. Ora, espero que você, leitor, esteja entendendo o quero dizer. Culpar determinado político pelo conjunto de transformações políticas e as suas consequências palpáveis no contexto regional ou do país em certo período de tempo é um erro grave e infantil. Responsabilizar o presidente por algo que se passa fora de sua área de atuação é tão grave quanto. Você que está lendo esse texto sequer sabe as atribuições funcionais de um deputado, de um senador, de um prefeito, de um governador estadual, de um presidente? Sei que não. Espero que sim. Reflita sobre. Não, se educação está um lixo, a culpa não é da Dilma. Se a saúde está sucateada, novamente, não (nem do SUS, vá estudar o assunto). Por doido que pareça, esse erro de associar a imagem do presidente ao resultado, também muitas vezes superficialmente avaliado, de um governo inteiro, é tremendamente comum.  Escolher um candidato é uma responsabilidade enorme, e exige um engajamento mínimo. Não escolha seu candidato por algo que ouviu por aí. Ou porque seu pai bostalhão mandou. Essa decisão deve ter por base o plano de ação do candidato para seu mandato e a sua capacidade de se manter fiel a esse plano, razoavelmente avaliável por meio de análise do cumprimento de metas em seus mandatos anteriores. Chega de escolhas irresponsáveis e acusações fúteis e vazias. Estudem. seus miseráveis!

Chega de teorizar: voltamos ao esgoto da rede. Tema: generalizações. Prometo que serei sucinto sobre isso. Primeiramente, leiam este título de machete, pela Catraca Livre: "Com quase 100 mil usuários, comunidade "Dignidade Médica" propõe castração química aos eleitores de Dilma Rousseff". CARALHOOOO, VERMES FILHOS DA PUTA!!!! Esse foi apenas uma das muitas declarações absurdas que surgiram nas comunidades. Acredito que vocês já entenderam. Elas dispensam comentários. Seres humanos desprezíveis existem em todos os cantos e não é algo que possa ser simplesmente concertado. O que realmente incomoda (e pessoalmente, como estudante de medicina, me sinto bastante incomodado) é a repercussão que tem se dado por conta de generalizações inventadas pela mídia. Uma que se viralizou foi a expressão "classe médica", que enquadra todos os médicos em uma só categoria, colocando-os lado a lado com aqueles vermes inúteis supostos médicos que mencionei antes. Tornou-se muito comum pessoas em geral se apropriarem dessas expressões para xingar muito no twitter depreciar a imagem do médico, que realiza, em essência, um ofício tão digno de admiração. Agora, canso-me de deparar-me com declarações como "Esses médicos são todos uns corruptos." e "Os médicos são a escória da sociedade.". Cuidado com as generalizações! Mesmo dentro da comunidade mencionada no título da manchete, apenas uma pequena porção dos membros manifestou declarações desse calibre. Se você é alguém que condena todo um grupo por ações de indivíduos isolados, sinto-lhe informar, está defecando pela boca. E não cortarei isso, pois é a mais pura e necessária verdade. Engula toda essa merda asneira e reflita sobre.

Independente de se você condena um pelo conjunto da obra, ou o conjunto pelas ações de uns poucos, tome vergonha na cara e vá estudar, para não ficar aí falando besteira e votar irresponsavelmente. Agora, se você não faz esse tipo de julgamento retardado, tem o meu amor eterno. Mentira. Mas está de parabéns. Parem também com essa palhaçada de "se a Dilma ganhar de novo dessa vez eu deixo de vez o país". Cresçam.

Talvez você e mais algumas outras almas perdidas que leram esse texto se perguntem internamente em algum momento de uma questão específica sobre mim. Se entenderam minimamente a mensagem desse texto, isso não irá influir em nada na sua escolha final nas urnas. Mas eu? Em quem voto? Nem um, nem outro. Entendam em ambos os sentidos: minha moral não é palco de circo para palhaços.